quarta-feira, 13 de julho de 2011

Histórias do Norte – Cap: 5 - Cor-de-talvez

O dia tinha começado escuro. Todos os dias desde há muitos ponteiros, começavam entre o breu e o cinza escuro, na vida de Simone. Mas ela não se importava. A vida era mesmo assim. Um dia qualquer haveria de acordar e o ser já teria mudado de cor. Até lá tinha, tinha de esperar. ‘Espera sentada’, diziam-lhe os amigos. E ela assim ficava, bem sentada e confortável à espera que a cor mudasse. Umas vezes, olhava pela janela e imaginava-se de pincel e tinta na mão, a pintar o céu. Pelo menos aquele céu que conseguia ver. ‘E não seria de azul, porque assim o céu fica igual a todos os outros céus. Talvez um laranja ou um verde. Sempre é diferente e ninguém tem um céu assim.’ Mas sempre que pegava num pincel, a janela fechava-se e transformava-se num muro, tão alto e tão sólido que a impedia de sair. Andava cansada de tentar saltar muros. E este era, ou pelo menos dava a entender que seria intransponível. Se calhar não gostava de verde ou de laranja. No fundo, Simone sabia que a cor não era o mais importante. E isso dava-lhe o conforto necessário para não tentar mais, para não decidir. Talvez um dia, talvez num dia bem cinzento, quase breu, alguma Skands lhe apareça à frente, bem loura e bem raínha e apenas lhe diga ‘Vamos?’. Talvez aí, talvez nesse minuto, nesse segundo, consiga de vez pegar nos seus pincéis, nos seus lápis de cor, nos seus guaches e vá pintar a tela. Aquela a que, mesmo nos dias cinzentos, quase breu, chama ‘sua vida.’

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