terça-feira, 2 de novembro de 2010

José tinha a certeza que o mundo ia acabar em 2012, como alguém há muito anos atrás, tinha previsto. Era impossível ser de outra maneira. O mundo corria de um lado para o outro, sem grande rumo, aproveitando estes últimos momentos. As pessoas levavam tudo ao limite. As amizades, os amores, as mentiras, as pressões, os olhares. Tudo como se não houvesse amanhã. Toda a gente com medo que alguém, com poderes divinos, resolvesse antecipar esta reunião cósmica. Por isso, a maratona continuava. Conta-se que havia pessoas a atrasarem os relógios vários anos, para terem aquela sensação de ainda faltar muito tempo. Como aqueles cinco minutos que, quando somos crianças, conseguimos ganhar à hora de ir deitar. Outros haviam optado por marcar vários eventos ao mesmo tempo, dedobrando-se em corpo e alma, conseguindo assim estar em dois sítios ao mesmo tempo. Outros ainda, compravam tempo aos mais desfavorecidos que, em troca, se tinham que colocar na fila nos primeiros lugares, quando o grande Fim chegassse. Depois de constatar esta realidade que o rodeava, José era ainda um homem em habituação ao fim do mundo. Nunca tinah ligado muito a isso, sempre foi o senhor do seu próprio tempo, até aquele dia. Sentiu um arrepio que o deixou imóvel a olhar para o relógio. ‘Ainda agora eram duas da tarde!’. Assim, decidiu que a partir daquele exacto momento também ia conseguir ser como o resto das pessoas. Seguir este padrão de comportamento que o ia deixar muito mais tranquilo para enfrentar e viver o tempo que faltava. Por isso, chegou-se ao balcão do café, a abarrotar de pessoas a viver intensamente, e olhou a empregada de frente. ‘Um café duplo, se faz favor!’. ‘É só um pouco que tem pessoas à frente’. apontando para a mole de gente que se acotovelava ali. José, num gesto brusco, puxa de uma arma e dispara dois tiros. ‘Menos dois que chegam a 2012’. Em seguida, olhou novamente a empregada e disse: ‘Sorry, mas tenho de enviar hoje ainda!’

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