segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ausente, volto já.

Sempre ausente. Ele acabava de ouvir estas palavras cantadas por um génio. Hoje, sem saber bem porquê soaram-lhe a verdade. A uma verdade tão intensa que não teve qualquer dificuldade em aceitá-las. Abriu-lhes a porta do seu mais íntimo ser e deixou-as permanecer ali. Sim, sentia-se ausente. Estava e não estava. Via e não via. Vivia e não vivia. Nem eram só os dias todos iguais, estatisticamente aceites por todos os que o rodeavam, que o deixavam incomodado. Era aquela sensação que não tem explicação. Só se sente e pronto. Um início de mau-estar que não é mal e muito menos é estar. É um arrastamento da respiração que não sabe quando vai parar. De respirar. Prolonga-se alguma coisa que não leva a lugar algum. Talvez o GPS do seu cérebro estivesse avariado. Ou talvez aquela senhora que sabe sempre para onde vai, tivesse ido mesmo, para qualquer sítio e o tivesse deixado ali. À mercê do caminho. Ainda pensou que fosse um daqueles dias que sabem a nada, desde que se acorda e que depois, com o andar dos episódios do dia, vai ganhando sabor. Nada. Olhou em redor e tentou encontrar alguma coisa que o trouxesse de volta. Nada outra vez. Fechou os olhos e bateu à sua porta. As pancadas eram ocas. Faziam eco de alguma coisa. Sem dúvida, eco de si próprio. A porta abriu-se, como se ele tivesse a chave. Estava sem mobília. Só o espaço, o chão. As paredes brancas, nuas, envergonhadas. Silêncio. Tudo lhe era familiar. Não estava, não era. Chegou-se à janela e abriu-a corajosamente. Longe dali, a música percorria o ar em pequenas notas, pausadas, sinceras, suas. Sim, sem dúvida precisava de Variações na sua ausência. Volto já.

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