quinta-feira, 20 de agosto de 2015

troca-tintas

O cor-de-rosa continuava a deslizar-lhe por entre os dedos. O negro, por entre as palavras. Não saiam. Não queriam dizer nada. Escondiam-se atrás de silêncios, que se escondiam atrás de outros silêncios que nunca tiveram voz. Queria fazê-las sair, mas os lábios estavam fechados. A sete chaves. E alguém as tinha deitado fora. Se as encontrasse e as tivesse na sua mão, não teria a certeza que os quisesse abrir. Entrava mosca ou saiam milhares de asneiras alinhadas em fila indiana. Talvez mais valesse estarem assim. Fechados. Não saia a asneira, mas também não entravam os copos de vinho barato, numa cantilena sem fim. Ressacava. Mais valia assim. Não teria de pensar em coisa alguma. Mantinha o cérebro encaracolado em dores de cabeça sucessivas. Agora o rosa já lhe havia passado para a face, que entretanto tinha perdido. O negro, o negro continuava o seu prazeroso deslizar por entre cada palavra. Trocou de tintas. Trocou de tela. Trocou dele.

Sem comentários: