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terça-feira, 10 de novembro de 2009
Sindicalisses
Ontem formei o Sindicato dos Pequenos e Médios criadores de palavras e frases. Falei com agentes da lei, gurus em gestão fonética e doutorados em senso comum e todos foram unânimes: havia esta lacuna no nosso sistema exigenciológico. Já tinham inventado sindicatos para tudo, menos para isto. Já me considerava estar atrás de grupos como os Amantes do Meio-Dia e das Senhoras que nunca-pensaram-que-o-mundo-ia-para-além-do-que-se-conhece. Todos eles e elas já faziam as suas exigência há muito. E eu, nada. Assim, impelido por um sentimento de apicidade, voei para um serviço de notariado, daqueles mais trendy, com marca e tudo. Aconteceu tudo muito depressa. Tão depressa, que pouco depois, estava já promovido a sindicalista. E a um sindicalista não podem faltar palavras. Ora, como eu era criador delas, a coisa prometia. A minha primeira exigência, com direito a discurso público, foi vetar o espaço a palavras ignóbeis e cheias de arrogância. Estas palavras, quase sempre, não deixam as outras crescer. Gostam de ocupar o espaço todo, como se o mundo das palavras, e o outro também, fosse todo delas. Era definitivamente um bom ponto para começar. Logo a seguir, neste meu primeiro dia, tive um almoço de trabalho com um grupo de transportadores de palavras dos jornais diários que se sentiam excluídos. Só levavam as palavras até aos confins do país, mas nunca tinham a palavra. Prometi analisar o caso, com o menor número de palavras possível, porque estas coisas querem-se claras, concretas e concisas. a seguir ao almoço, segui para as portas da Assembleia da República das palavras, para tentar pôr em prática a minha primeira medida, mas não fui bem sucedido. Não havia força de grupo. Também, ainda só tinha mais quatro companheiros de luta que angariei por acaso quando desci a Rua Amália, até São Bento. E foi porque se assustaram e se hipnotizaram com uma das minhas palavras ‘Cuidado’, porque vinha um carro que as parecia atropelar. Então, como dizia, as coisas não correram bem. Nem passei das portas de entrada, onde guardas armados, me dirigiram palavras de ordem ‘Sai daqui!’. Palavras fortes e bastante encorpadas essas. Eu como representante dos Pequenos e Médios criadores, não me aguentei. Eram já palavras de Grandes criadores. E o meu tabuleiro de jogo não era esse. Deixei para outro dia. E os meus companheiros acasísticos de circunstância também. Antes do fim da tarde, quse noite, já estava exausto. Essa coisa dos sindicatos não era para mim. Talvez quando um dia me tornar um Grande criador de palavras. Fica prometinado.
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