segunda-feira, 13 de junho de 2011

Caderno-semi-aberto

Nobody dies a virgin, life fucks us all. Estas palavras foram genialmente inventadas por Kurt. Cobain sabia do que falava. Miguel olhou-as de frente, manuscritas num caderno semi-aberto de um adolescente sentado na esplanada da Avenida, e foi incapaz de sorrir. A verdade quando surge tão crua e mesquinha, dói mais que centenas de agulhas a espetarem-se ao mesmo tempo nos olhos. A tristeza invadiu-lhe a face pela milésima vez naquele dia cheio de sol. Esse mesmo sol que já não era suficiente para lhe dar a luz que precisava, faz já umas semanas, que teimavam em ser cada vez mais largas. E o que Miguel mais desejava naquele momento era mesmo um caminho mais ou menos estreito, que lhe focasse toda a atenção. Aquelas palavras não lhe saíam da cabeça. Iam e vinham. Jogavam flippers nos seus neurónios. Mas pior que tudo, não saíam dali. Semanas, dias, horas, minutos, segundos a fio. Aquele caderno, naquela mesa, naquela esplanada, naquela Avenida, bem podia e devia ter outra frase escrita ‘Niguém morre virgem. A vida encarrega-se de nos foder. E se não é a vida, é alguém mesmo ao nosso lado.’ E Miguel sabia-o bem.

1 comentário:

Cassandra disse...

Perfect. Isn't life a charm?:)