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segunda-feira, 11 de julho de 2011
Histórias do Norte – Cap:1 - Ligações
O restaurante era o italiano de esquina. Ao fundo, um luminoso Rolex marca o tempo da zona. Toalhas de pano muito brancas, copos de pé alto. Dignos de receber visitas ilustres. Como é o caso. Ela acabava de chegar à cidade e impunha-se pela sua presença, fosse onde fosse. Bonita, sem uma única marca da idade a trespassar-lhe as frontes, era impossível passar sem que todos reparassem nela. Pelo menos é o dizem. Ela preferia exactamente o oposto ‘trazia-me menos complicações’, costumava dizer. E, no fundo, era verdade. Ela parecia um íman a atrair problemas. Um íman com uma elegância feminina que faz suspirar quem com ela se cruza. Eram uns atrás dos outros. Os problemas, claro. E os homens, de certa forma também. Ainda este último lhe havia tentado regar a Louis Vitton com um frasco de gasóleo disfarçado de Channel 5. Sim, porque a gasolina está pornograficamente cara. Era dona de um magnetismo para estas pelejas que não se conheciam grandes adversários à altura. Sentou-se, olhando em volta, na esperança de ter conseguido a missão de passar despercebida. Impossível. Mais de metade dos olhares, por entre copos e sabores, fixaram-se nela. Naquele mesmo segundo, cravou os seu solhos no chão, na tentativa diga-se com justiça, bem conseguida, de fazer parar aquelas ligações. Conseguiu-o pelo menos durante alguns segundos. Respirou bem fundo antes de voltar a uma pose mais social. No seu movimento elegante de olhos, ao voltar o seu olhar de novo para cima, depois daqueles breves momentos de tréguas, os seus cruzaram-se com dois enormes círculos castanhos escuros. Igualmente magnéticos. Igualmente a chamarem problemas. Igualmente impossíveis de não olhar. Era ela agora, quem não conseguia desfazer aquele elo. Embaraçada, um pouco, pela situação, mas sem nunca desviar o olhar, estudou apressadamente o menu e pediu: ‘mesa para dois!’. E beberam vinho italiano que acompanharam com pasta e umas ingénuas folhas de rúcula. Só a Louis Vitton ficou à margem, bem escondida debaixa da mesa, ligada à terra. Mesmo a gasolina ao preço que está, nunca se sabe.
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