quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Mesas

Alberto ouvia-os falar. Talvez não tomasse atenção ao verdadeiro sentido das suas palavras. Talvez isso nem fosse o mais importante. Mas, sem conseguir explicar porquê, sentia-se bem a ouvi-los. Eram dois. Na realidade eram três, mas um deles quase nunca tinha a palavra, acenando de quando em vez com a cabeça, para dizer que sim, que concordava. Por isso, para Alberto, não contava. A cada palavra que saia das suas bocas, ele ia construindo a sua própria história. A pouco e pouco, a história crescia. Ganhava forma. Ganhava formas. Surgiam novas personagens. Novos enredos. Novos enganos. Novas verdades. Novas mentiras. Novas cores. Novos sons. Novas vidas. E quando era a sua vez de dizer ‘Era uma vez’, as duas pessoas e a outra que quase nunca tinha a palavra, acenando de quando em vez com a cabeça, para dizer que sim, que concordava, pediram um café ‘curto, se faz favor’ e sairam. Alberto ainda tentou continuar a escrever a sua própria história, mas já não conseguiu. Mudou de mesa.

1 comentário:

Catarina Santiago Costa disse...

São os cinzentos desta vida. :)