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quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Dia sim
Anibal conduzia aquele carro há já vários anos. E aquilo nem lhe fazia grande confusão. Levar, trazer. Olhar o espelho, ajeitar a gravata. O mesmo ritual. Abrir a porta, carregar, fechar a porta, carregar. Mas naquele dia, já com o carro em andamento sentia-se desconfortável. Não sabia bem porquê. Olhou-se ao espelho. Tudo normal. Olhou para os lados, nada. Parou o carro e dirigiu-se à traseira. Abriu vigorosamente a porta e olhou-o de frente. ‘Há anos que ando contigo de um lado para o outro e nunca houve confusões. O que é que se passa?’ Uns segundos e nada. Até que ouviu um ligeiro som vindo lá de dentro, como que pedindo para sair. ‘Mau, temos festa!’, pensou. Era a primeira vez que passava por aquilo. Agora é que se lembrava de querer sair, mesmo antes de chegar a casa. E nós que tínhamos um acordo, bem selado, há anos atrás. Nem eu fazia perguntas, nem ela me dava respostas. O som tornava-se mais aflitivo, à medida que passavam os segundos. Anibal começou a suar. Tirou o casaco e desmanchou o nó gravata preta. ‘Abro...., não abro.’ O som era cada vez mais estridente e aquilo começava a mexer-se mesmo. Esfregou os olhos e beliscou-se. Sim, era verdade. Chegou-se mais perto e, com uma mão numa das pegas, arrastou a tampa. Lá dentro nada, absolutamente nada. Hoje, aquele espaço era todo seu. E o dia também.
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