terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Desimportem-se

‘Pára tudo que eu quero passar’. Fazia isto sistematicamente. Dia sim, dia sim, lá estava a ignorar os outros e a atravessar-se, como que vindo do realmente nada. Assim que chegava, impunha a sua presença e obrigava toda a gente, de perto ou de mais longe, a largar tudo o que tinha na mão, só para lhe prestar a atenção que pensava merecida. Merecida não, mais que merecida. Na balança das subjectividades mundanas, o ponteiro da importância pendia sempre para o seu lado. Sentia-se importante e cheio de vaidosas vaidades. Pavoneava objectivamente a sua importância subjectiva, desdenhando quem passava e quem ia ainda passar. Talvez um dia venha a aprender que a sua importância vai depender da importância que lhe dão. E continuam a dar-lhe muito mais do que seria objectivamente importante. Eu não me importo de lhe retirar toda a importância. Mas para isso, tenho que me desimportar de outras subjectividades a que dou demasiada importância. Como por exemplo, parar tudo para deixar passar.

2 comentários:

Anónimo disse...

este texto encaixa perfeitamente no perfil de alguém que conheço...
Fantástico.

Paula Pereira

André Oliveira disse...

Que coincidência... tive exactamente a mesma impressão.

Tu e eu temos de escrever um maifesto à antiga, estilo Almada Negreiros com o Anti-Dantas...